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Estudo: APIs e Web Crawlers

1. Introdução

Este documento explica os conceitos de web crawling e APIs REST, compara ferramentas populares para construir crawlers e discute os principais desafios legais e éticos associados à coleta automatizada de dados.


2. O que é Web Crawling

Web crawling é o processo automatizado de navegar por páginas web e coletar (baixar) seu conteúdo para indexação, análise ou extração de dados. Crawlers — também chamados de spiders — visitam URLs, seguem links e armazenam cópias das páginas ou extraem informações específicas.

Quando usar crawling vs scraping vs APIs:

  • Crawling normalmente refere-se ao ato de descobrir páginas (seguir links) em grande escala.
  • Scraping é a extração de dados de páginas individuais (parsing HTML, extrair campos).
  • APIs são interfaces fornecidas pelos serviços para acesso estruturado — sempre que disponível, preferir API em vez de scraping.

3. Como funcionam os Web Crawlers (técnica)

Fluxo básico de um crawler:

  1. Seed list (lista inicial): começa com um conjunto de URLs.
  2. Fetch (requisição): faz requisições HTTP das páginas.
  3. Parse: analisa o HTML para extrair links e conteúdo relevante.
  4. URL queue (fila): adiciona novos links para visitar (com políticas de prioridade).
  5. Storage/indexação: salva páginas ou extrai e armazena campos em banco de dados.
  6. Políticas: politeness (intervalos entre requisições), politeness por host, limites de profundidade, tratamento de duplicatas.

Componentes técnicos importantes:

  • User-agent — identifica o bot; deve cumprir regras indicadas em robots.txt quando aplicável.
  • robots.txt — protocolo de exclusão usado por sites para indicar quais caminhos os crawlers podem acessar.
  • Sitemaps — arquivos que listam URLs que o site deseja que sejam indexados.
  • Renderização JavaScript — muitos sites modernos carregam conteúdo via JS; é preciso renderizar (headless browser) ou usar ferramentas que executem JS.

4. Principais ferramentas para criação de crawlers — levantamento e comparação

Abaixo há uma visão geral das ferramentas mais usadas (foco em 2024–2025):

Ferramenta Tipo Linguagem Quando usar Prós Contras
Scrapy Framework crawler Python Crawling/scraping em larga escala, pipelines Projetado para scraping, alto desempenho, extensível, comunidade ativa. Curva de aprendizado; não executa JS por padrão.
BeautifulSoup Parser HTML Python Extração simples de páginas estáticas Fácil para parsing e protótipos. Não faz requests paralelos nem renderiza JS (usado junto com requests).
Selenium Browser automation Multi (bindings em Python, JS) Sites com JS complexo; automação de navegador Executa JS, pode interagir com scripts e formulários. Mais lento e pesado; consumo de recursos.
Playwright Browser automation / scraping Node.js / Python / .NET Renderização robusta e headless, multi-browser Rápido para automação moderna, suporte multi-engine. Requer gerenciar instâncias de browser; maior complexidade.
Puppeteer / Puppeteer-core Headless Chrome control Node.js Similar ao Playwright, focado Chrome/Chromium Bom para páginas JS; API fluída. Focado no motor Chromium.
Apache Nutch Crawler distribuído / search Java Crawling em larga escala, integração com Hadoop Escalável, extensível; pensado para motores de busca. Mais complexo; stack Java/Hadoop.
Heritrix Crawler para arquivamento Java Arquivamento web (ex.: bibliotecas, instituições) Projetado para arquivamento em larga escala. Complexidade operacional.
Crawlee (Apify SDK) Framework de scraping Node.js Escalabilidade, integração com Apify Bom para jobs em nuvem, rotinas reutilizáveis. Ecossistema mais jovem que Scrapy.

5. O que são APIs REST e como funcionam

Conceito

API (Application Programming Interface) é uma interface que permite que aplicações comuniquem entre si. REST (Representational State Transfer) é um estilo arquitetural para APIs sobre HTTP que usa recursos (URLs) e operações HTTP (GET, POST, PUT, DELETE, PATCH) para manipular o estado.

Princípios chave do REST

  • Recursos identificáveis por URIs (ex.: /users/123).
  • Operações via métodos HTTP: GET para leitura, POST para criar, PUT/PATCH para atualizar, DELETE para excluir.
  • Statelessness: cada requisição deve conter informação suficiente para o servidor processá-la (não manter estado no servidor entre requisições).
  • Representação: os recursos são retornados em formatos padrão (JSON é o mais comum hoje).
  • HATEOAS (hipermídia como o motor do estado da aplicação) — ideal REST fulness, mas nem sempre implementado.

Elementos práticos

  • Autenticação/Autorização: API keys, OAuth 2.0, JWT.
  • Rate limiting: para evitar abuso e proteger recursos do servidor.
  • Versionamento: /v1/ ou versionamento via cabeçalhos.
  • Códigos de status HTTP: 200, 201, 204, 400, 401, 403, 404, 429, 500 etc.

Exemplo simples (curl)

# Requisição GET para obter um recurso
curl -X GET "https://api.exemplo.com/v1/users/123" -H "Accept: application/json"

# Requisição POST para criar
curl -X POST "https://api.exemplo.com/v1/users" \
  -H "Content-Type: application/json" \
  -d '{"name":"Maria","email":"maria@ex.com"}'

6. APIs públicas úteis

Repositórios e coleções úteis de APIs públicas:

  • Public APIs (GitHub) — lista colaborativa de APIs gratuitas e públicas.

Exemplos de APIs públicas que costumam ser úteis em estudos e projetos:

  • GitHub API: metadados de repositórios, usuários, issues.
  • OpenStreetMap / Nominatim: geocodificação e dados cartográficos abertos.
  • APIs de dados governamentais: muitos países oferecem portais de dados abertos (open data).
  • NewsAPI.org: Fornece artigos de várias fontes jornalísticas internacionais.
  • Mediastack API: Similar ao NewsAPI, fornece notícias globais em tempo real.
  • GNews API: Focado em notícias recentes, com endpoints simples e suporte a várias línguas.
  • Portal de Dados Abertos: Encontre dados publicados pelo governo federal e por governos locais para realizar pesquisas, desenvolver aplicativos e criar novos serviços.

7. Desafios legais e éticos na coleta de dados

Principais aspectos legais

  • Terms of Service (ToS): muitos sites proíbem scraping em seus termos. Romper ToS pode levar a ações civis ou bloqueios técnicos.
  • Robots.txt: não é lei, mas é considerado uma convenção de boa conduta; ignorá-lo aumenta risco reputacional e técnico.
  • Leis de proteção de dados (ex.: GDPR, LGPD): coleta de dados pessoais requer bases legais, transparência, e cumprimento de direitos dos titulares.
  • CFAA e jurisprudência: em alguns países (ex.: EUA) a legislação sobre acesso não autorizado (CFAA) foi usada em disputas. Um caso famoso é hiQ v. LinkedIn, que envolveu scraping de perfis públicos e gerou decisões e recursos que influenciaram o entendimento jurídico — essa área continua em evolução e depende da jurisdição.

Questões éticas

  • Privacidade: mesmo dados “públicos” podem afetar privacidade quando agregados e reidentificados.
  • Impacto econômico: crawlers que geram tráfego massivo podem impor custos ao dono do site.
  • Consentimento e transparência: ser transparente sobre coleta e uso de dados é prática ética recomendada.
  • Uso justo e direitos autorais: reutilizar conteúdo sem autorização para fins comerciais pode infringir direitos.

8. Boas práticas ao coletar dados (crawling e via APIs)

  • Prefira APIs oficiais quando existirem.
  • Respeite robots.txt e políticas do site.
  • Implemente rate limiting e backoff exponencial para reduzir carga no servidor.
  • Use User-Agent claro e informações de contato (quando apropriado).
  • Cache e incremental crawling para evitar downloads redundantes.
  • Proteja dados pessoais e cumpra leis de proteção de dados.
  • Documente seu pipeline e mantenha logs de acesso para auditoria.
  • Negocie acesso com provedores de conteúdo quando for coletar em larga escala (parcerias, contratos).

9. Conclusão

Web crawling e APIs REST são ferramentas poderosas para obter dados da web. Enquanto APIs oferecem acesso estruturado e seguro quando disponíveis, crawlers permitem descobrir conteúdo onde APIs não existem, mas trazem complexidade técnica e riscos legais/éticos.

Adote sempre práticas responsáveis: prefira APIs, seja transparente, e respeite limites técnicos e legais.


10. Referências